Saudade. Este sentimento tão português parecia transbordar de nós para todos eles e em pouco tempo estavam cinco “tobaboos” – brancos, mais um punhado de “petits fafaris” – pretinhos, com as nossas coisas acauteladas dentro da piroga à espera que o timoneiro a fizesse arrancar. Soube bem pousar novamente o pé naquela margem, soube mesmo bem. De repente podíamos novamente por em prática o nosso rudimentar “Maninkaka”, já um pouco enferrujado pois em Conakry, por mais Malinkés que hajam, quase todos falam Sussu. Os “Inicés” (“olá” depois de uma longa ausência) repetiam-se misturados com sorrisos e apesar de curto, foi longo o caminho que percorremos até chegarmos ao bairro familiar que aloja a “nossa” palhota. Lá dentro parecia estar tudo na mesma à nossa espera, mas com um pouco mais de pó. Guardamos apressadamente as coisas e saímos para a pracinha aqui em frente. O resto da canalha começou a chegar e dividiram-se os colos e os abraços. Pouco depois conhecemos os cinco ingleses que entretanto chegaram à aldeia para fazer um estágio de percussão e cedo chegou a hora do almoço. Éramos muitos a partilhar o mesmo prato de arroz com molho de peixe, entre brancos aprendizes e pretos professores, novos e menos novos, todos a comer do mesmo pote, fazia-se a “união africana” – como ouvi chamar em Conakry. Repetia-se a rotina nunca enfadonha da pequena aldeia.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Sangbarala, quarta-feira, 31 de Janeiro de 2008
Saímos de Conakry bem cedo, acordamos às cinco, mas só arrancamos às nove. Bem ao estilo português – mal seria. A viagem correu bem, apesar das más condições da estrada e a Aurora nunca tivera nesta sua aventura tantos passageiros a bordo como nestes 550km que separam a capital da aldeia de Sangbarala. Relembro que para além de trazermos de volta o Banjo à sua aldeia, trazíamos também connosco dois “gringos”, o espanhol Miguel e o alemão Eckhard. Entre “ataia” (chá chinês) e pães com omeleta, trocamos acesas mas sempre brincalhonas opiniões musicais – sempre à custa das escolhas do Armando. O Banjo aprendera a lição e desta vez não saiu da Aurora no controlo. Em vez disso sacou o djembé do Miguel do saco e tocou umas notas bem alto para que a policia o identificasse como artista e não como algum criminoso foragido e sem papéis. Foi limpinho. À saída os sorrisos dos militares contrastavam radicalmente com o que recordo das mesmas faces aquando da nossa entrada na cidade. Apesar da época de ouro dos Ballets parecer ter acabado, toda a gente parece ter ainda um respeito especial pelos músicos. O que não invalida nem torna ausente a já habitual abordagem interesseira. Como chegamos pelas onze da noite a Kouroussa (capital de distrito), com receio de não arranjarmos piroga para atravessar o rio, dormimos por lá no único hotel que conheci. Na manhã seguinte fizemos os cerca de dez quilómetros que nos separavam da “nossa” aldeia e foi sorridentes que olhamos novamente aquele rio, aquelas margens repletas de cor, e aqueles sorrisos estampados nos rostos das crianças.
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4 comentários:
E enquanto ai se enche e se preenche, eu já fui, voltei e daqui a pouco sigo de novo. Para encher e preencher de novo, mais e mais. E ai, aqui, onde quer que a gente esteja ou vá estar, desde de que se sinta e saiba o "valer a pena", nada mais é preciso explicar! Aproveitem tudo, sempre, e toda a sorte do mundo para voçês
Olá amigos,
New look, à maneira!
“Mandino”, parece que te vais aliar ao Solidariedade, em Gdansk! ;-)
Brincadeira à parte, mais uma excelente aparição, respondendo a todos quanto queriam uma observação in loco destes grandessíssimos “Mandés”.
Nova resenha dessa ventura que se nos aproxima duma forma tão real originando por momentos, uma tão boa e modesta ilusão.
Tenta-se sentir o calor do ar e respirar o espírito desse povo.
Quanto à hospitalidade, diria desinteressada. Um dia serás profeta disso Nuno.
Um abraço.
pahhhhh!!
ki feios!!!
olha... não tenho vindo pois..
encontrei a Tezoura... sorry
beijinhos...
:D
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