sábado, 12 de janeiro de 2008

Relato da chegada a Guiné Conakry- Sangbarala Dez 2007


A paisagem começou a ficar mais montanhosa e mais verde, as pequenas aldeias de palhotas começaram a aparecer com mais frequência assim como as pessoas que continuaram a aparecer-nos à face da estrada. Na sua maioria mulheres e crianças, sempre carregando coisas na cabeça, pilhas de madeira, bacias coloridas, sacos cheios de qualquer coisa, etc.
É incrível a elegância do andar das mulheres mesmo carregando todo aquele peso na cabeça. As roupas sempre cheias de cor e de padrões loucos que naquela pele negra e com aquele cenário por trás parece que ganham vida. As crianças ao ver 3 “tubabus” (brancos), na Aurora – modelo bastante vulgar nesta estrada, mas que normalmente passam atulhadas de carga no tejadilho e gente dentro – ficavam admiradas uns segundos para depois esboçar aqueles sorrisos sinceros enquanto libertavam uma das mãos da carga que levavam na cabeça para nos acenar. A estrada era boa e acompanhava sempre de perto o rio DJOLIBA (ou Níger como é conhecido). Ao por do sol chegamos a Kankan – 2ª maior cidade da Guiné Conacri – e através, mais uma vez, da “Bíblia” encontramos a “missão católica” onde pernoitamos essa noite. Estávamos a 50 km de Sangbarala, e só de saber disso já pouco dormi.
Para mim, pessoalmente, este era o principal destino a alcançar. Não sabia se ia lá estar alguém que me reconhecesse, visto os músicos da aldeia, que foi com quem eu mais lidei há 2 anos, estarem frequentemente na capital nesta fase do ano por causa dos estágios de música. É para eles o tempo das “vacas gordas” e têm que ir fazer dinheiro. Duvido que seja por gostarem de ir à capital.


Dia 6 de Dezembro.

Levantamo-nos cedo e ainda na missão católica tomamos o pequeno-almoço para de seguida seguir caminho.
A estrada pareceu ficar conhecida e quando passamos por uma placa a sinalizar a aldeia “Baro” tive a certeza que já não era a 1ª vez que tinha estado ali e já estávamos mesmo próximos da “village”.
No momento em que vi Sangbarala numa placa, senti o alívio de ter cumprido a promessa que fiz a mim mesmo da última vez que olhei para ela: “Voltar à aldeia”!
Entramos numa estrada de terra batida, a vegetação à volta era capim alto e algumas árvores de médio porte. Estávamos excitadíssimos mas era o silêncio da expectativa que se vivia dentro da “Aurorinha”. O pé da embraiagem tremia.
No caminho vimos uma mulher com o bebé às costas, uma criança pela mão, e para não variar, um saco enorme na cabeça. Cumprimentamo-la com um INIKE e com gestos perguntamos-lhe se queria boleia. Hesitou um bocado e meia envergonhada aproxima-se. O saco de arroz que levava na cabeça foi para o galinheiro da Aurora, tirou o bebé das costas e entrou.
Só falava Malinké e isso gerou logo aquele silêncio incomodativo. Para quebrar o gelo pusemos a musica “Konden” de Famoudou Konaté. Ficou admirada pelo que estava a ouvir e quando se apercebeu que era mesmo a música da aldeia dela, aquela que conhece desde que nasceu, ficou contentíssima a cantar e a bater palmas. O bebé no seu colo, assustado à procura de onde vinha aquele som, quem estaria a cantar a língua dele dentro daquele carro com 3 homens de cor estranha e bigode?

O caminho estava cheio de buracos, por isso foi feito a passo de caracol. Ao entrarmos numa zona mais densa vejo ao fundo um senhor, já de idade, que mal me vê começa a sorrir como se estivesse à espera. Achei estranho e ao aproximar-me vi que era o pai do Namory Keita (musico que me alojou da ultima vez) naquela palhota com a cama de colchão de palha ao lado esquerdo, a mesinha ao fundo e os posters do “Bob Marley”, “Britney Spears”, e “50 cent” na parede.
Cumprimento-o e sem lhe perguntar nada diz-me “Namory papá” e continuou a falar Malinké o qual não deu para entender nadinha. Via-se que estava contente com a nossa chegada. Ao perguntar-lhe pelo filho ele aponta para este e diz a rir-se – “Namorydjan Bamako”.
Estávamos com um pequeno problema: ou tentávamos encontrar alguém que falasse francês a quem pedir alojamento ou tentávamos falar com o senhor Keïta – o que não ia ser nada fácil.
Lembrei-me duma frase usada nos Madandza hà uns tempos “Banes indo, banes bendo…”

Andamos mais uns 50 metros e ao sairmos da mata densa aparece-nos assim a frente cheio de luz o Djoliba, com a piroga a atravessa-lo, as mulheres a lavar a roupa e os meninos a brincarem na praia. Na outra margem aquelas duas árvores enormes e imponentes, a rampa que sai do rio em direcção à aldeia e mais a frente o verde denso do arvoredo. Aquela imagem, aquele cheiro quente é impossível ser esquecido.

Saímos do carro, a senhora despede-se toda sorridente, aproximamo-nos do rio e em silêncio saboreamos o momento.

Chegamos!


Texto: Armando Santos
Fotos: Ricardo Leal
Coo piloto: Nuno Ribeiro

6 comentários:

Pedro disse...

ESPECTACULAR!!
O MELHOR TEXTO...AS MAIS LINDAS PALAVRAS..QUASE CHOREI*
Tens que escrever mais vezes...és tu o dono das memórias...és tu o guia..és tu o mentor..e só tu podes fazer passar rios, montes,continentes e chegar até nós com essa pureza, simplicidade e força africana.
VAI PRETO!
banes ines..e ines bendo!!
BEIJO da ISA

Anónimo disse...

Sempre é verdade que "O sonho comanda a vida".E se assim não fosse,este meu amigo do peito(Mandinho)não estaria por esta altura neste sonho vivo em terras de "coração do Mundo".Tenho muito orgulho em ti,migão.Para além do prazer pessoal que esta viajem te trás,espero que a reciprocidade da tua coragem e espírito aventureiro,se emancipem da forma que mais desejas. Fiquem bem e até jazzz

zinha disse...

Olá Mandinho!!!!
Aki continuamos todos a seguir as vossas aventuras pelo coração de África...
Que a boa sorte seja sempre a vossa companheira...
Não sabes quem te está a mandar este comentário!?
É uma das "GORDAS", as mais giras, mais jeitosas e mais engraçadas raparigas de Viana e arredores........bjinhos

Unknown disse...

olha o guru a chorar... crocodilo!!!
:D


Gostei! Não sabia que davas uns toques na Língua Portuguesa!
:)

bem...
vou embora k já tou a ficar deprimido........

vosso

Cocas

Anónimo disse...

oi gostei muito! também estou me programando para conhecer este lugar que parece ser incrivel...valeu pelas dicas..estou indo atras do meu PRETO..

Anónimo disse...

bjs valeu pelas dicas mui ricas.e muito especial...